terça-feira

Na janela



É como eu tava dizendo hoje, quer dizer, eu sempre falo isso, é um inferno. Pois sim, estava dizendo que primeiramente vem a revolta, depois o motivo formal e isso não é intelectual, pq eu acho mesmo é que o pico intelectual é a tolerância e isso exclui, no fundo do poço, qualquer militância... Não sabendo pra que e por que ensino de ciências, tenho a impressão que eu vou descobrir fazendo. Não descubro, não volto pra casa e a violência continua. Essa é a luta.
Eu não queria fazer desse espaço um diário, muito embora, pela ausência de leitores, eu me sinta muito à vontade de tratá-lo como tal. Destarte, me sinto à vontade pela pouca pretensão de parecer intelectual. Identificada a tolerância como cume da sabedoria, eu desisto. Eu saber serei lutando e está decido, querido blog, eu vou para educação!

segunda-feira

Iê iê iê...

Quando ouço pelos teus ouvidos, Cantiga boa
entardece.
Caçadora de plantas sou eu
Na caça de curas
Caminhadas sobre o coração terra
sem boca, sem voz, sem passos
sem corpos
sonoras
conversas
de grilos-estrelas.

Por qualquer barulho
surgiriam abelhas
E ninguém saberia
o que para ele
elas diriam,
Caminhadas sobre o coração da terra.

Gosto puro...
Ainda se ouve
por entre os lugares
conversamentos de onças,
os versos dos que passaram.

Eu chamo passarinho...
E faço um sambinha pra mim.

sexta-feira

Acorda, amor.

Acorda, amor
Que horas são?
A gente tá atrasado?
Pra onde começa o mundo?
Volta aqui, neném, fica pertinho de mim...
Assim bem gostosinho...
Volta pro colo
Dorme mais um pouquinho
Isso, assim.

Fica aí quietinha, pacotinho...
Eu vou pegar uma maçã.

Uma maçã?
Não, o marido dela.

sábado

O sonho do grão-de-bico

Era uma vez um certo grão-de-bico, chamado grão-de-bico. Andava de mãos em mãos com seus companheiros, retido ao saco que o continha. Desde sua germinação esperava o dia de seu cozimento. Já conhecia seu futuro, apredenra muitas coisas durante a vida e era bastante ponderado. O que não havia aprendido, entretanto, era o seguinte: estar feliz com sua condição de grão-de-bico-cego.

Há não muito tempo, num país como o Brasil, os cientistas descobriram que plantas felizes cresciam mais rápida e lindamente na presença de música clássica. Hoje em dia tais fatos são bastante conhecidos e no meio científico todos conversam sobre isso na cantina:

- É mesmo, Einstein, vamos colocar música em todos os cantos do mundo, para alegrar a vida das plantas! Nossos problemas estarão resolvidos.

E logo a conversa toma novos rumos, como raios gama, por exemplo.

Dito e feito. No dia 16 de maio, a terra toda fora tomada por uma linda música e todas as plantas do mundo se sentiram felizes e completas, menos o grão-de-bico. No grão-de-bico a música não fazia o menor efeito, pois ele não sabia o nome dela e para ele, algo que não tem nome não existe. Mal sabia que mais importante que saber o nome era enxergar a cor da música, mas isso o grão-de-bico não podia imaginar, porque plantas não enxergam.

Do punhado de coisas que eu quero dizer com isso, o mais importante é ressaltar que cada ser tem suas características próprias, danos e extensões, e nomes só existem num mundo imaginário. O mundo só depende dele mesmo.
A história poderia terminar aqui.

Mas sucedeu que eu me apaixonei pelo tal grão-de-bico e não quero deixá-lo com um final meia boca – é um mundo de possibilidades, e é estranho que no meio de tantas possibilidades surjam nomes como Asclepiadaceae.

Mas se ao invés de planta ele fosse jardineiro? Há de se supor que ao se deparar com um jardim de muitas espécies, vinte e sete tipos de frutas e algumas ervas, não sabendo o nome delas, poderia cortar até a mais linda flô, por julgá-la inexistente. Quando tudo precisa de um nome, aí a vida perde o sentido. Abre parêntese – eu sempre quis usar uma idéia do Millan Kundera e minha oportunidade chegou- fecha. Mas basta amar loucamente, pra que a unidade palavra e existência, ilusão lírica da filosofia graodebiqueana, se dissipe imediatamente.

Foi assim que ele viu
E nada mais se perdeu.

Fim.