quarta-feira

Interestelar canoa

Porque uma coisa tão essencial como amor
se nós não tivéssemos resistência
ninguém nunca teria problemas.

segunda-feira

Om Mani Padme Hum


(Violeta)
Elas sentem o mesmo e exigente chamar.

quinta-feira

E por quê não me alegraria?

E por quê não me alegraria?
Se tudo em vida é poesia
Se poesia é tudo que nos resta.

Traga-me as dores e direi:
É tudo do mundo e o mundo é tudo que sou.
A dor veraz não torna o homem mais triste
O torna mais homem, o torna mais vivo
... e a vida é tudo que existe.

Sendo assim, por quê não me alegraria?
Por ser homem, José ou Maria
Por ser livre e olhar estrelas.

Haverá motivo, em voz e em vivo
Haverá tumulto, então calmaria.
E se tudo se tornar sem sentido (outra vez)
Que haja alguém com abraço infinito.
...Por quê não me alegraria?


quarta-feira

- Precisamos do papel machê, Lívia (que agora também é esquizofrência).
- Sim, sim, encontraremos.

Gosto de procurar papel machê nesse lugar. É o que eu mais gosto de fazer. Posso passar dias, existências, aqui, procurando papel machê. Eu sempre procuro, peregrino, peço e enlouqueço nesse cantinho. Antigamente tinha muito papel machê aqui, mas ele foi esvaziando, perdendo sentido, sem explicação. Mas veja você que coisa entranhada - parece que aqui sentada na frente da pia do banheiro, gavetas abertas, as coisas são tão avacalhadas que eu posso fingir de louca e jogar na ladeira a vida, como se fosse coisa pouca. Há quem pense que eu fico em casa propurando borboletas por causa de você, papel. Mas eu fico é te procurando e te procurar é bom que mata.

Ora todas nós somos vazias, não é privilégio das que saem pra comprar roupa não.
Esvazia, gasta tudo, o papel acaba, o diretor manda pra casa.

- Mas que interessante. Acho que ele gastou a gente.
Voltavam todos juntos, Freddy, Frida e Feliciano. Menos Lívia, que estava no quarto de paredes brancas. Estava só. Angustias sozinhas no meio de multidões. São os piores silencios, os que devem ser silenciados. Lívia era comportadinha, tinha uma doçura na voz. Como era má, Lívia, como tinha armas e sabia, Lívia. Supunha que viver fosse arriscado mesmo. Morria de medo e não sabia ficar sozinha. Ai como era sínica, tão insegura, pobrezinha, parecia um coelinho. Quis dizer, implorar. Quis poder mostrar o que ele só apredenria com a vida, se a vida fosse exatamente igual a dela. Quis ser bandida, levantar a saia, colocar uma máscara. Quis não ter tantos sonhos naquela hora, mas era tarde.
Meia-noite a penitente vagava sozinha queimando as cartas em sua cabeça, queimando poemas. Não era pra queimar, Lívia. Era pra descontrolar. Era pra xingar essa geração que cortada, aleijada de amor, não te ama. Era culpa de quem? Os audaciosos também tem medo. Não estava tão em si quanto antes. Era mais um pra dividir. Ora quantos pararam no fundo do mar. Isso não tem fim?
Será que não há um porto?

Era uma maldição. Rara e comum maldição.

"Lívia coração de pedra. Vá pra Terra, se doe."

E doeu.

Quis não desesperar.
E não desesperou mesmo.

Como pode uma vontade genuína naufragar tanto amor?