quarta-feira

Voltavam todos juntos, Freddy, Frida e Feliciano. Menos Lívia, que estava no quarto de paredes brancas. Estava só. Angustias sozinhas no meio de multidões. São os piores silencios, os que devem ser silenciados. Lívia era comportadinha, tinha uma doçura na voz. Como era má, Lívia, como tinha armas e sabia, Lívia. Supunha que viver fosse arriscado mesmo. Morria de medo e não sabia ficar sozinha. Ai como era sínica, tão insegura, pobrezinha, parecia um coelinho. Quis dizer, implorar. Quis poder mostrar o que ele só apredenria com a vida, se a vida fosse exatamente igual a dela. Quis ser bandida, levantar a saia, colocar uma máscara. Quis não ter tantos sonhos naquela hora, mas era tarde.
Meia-noite a penitente vagava sozinha queimando as cartas em sua cabeça, queimando poemas. Não era pra queimar, Lívia. Era pra descontrolar. Era pra xingar essa geração que cortada, aleijada de amor, não te ama. Era culpa de quem? Os audaciosos também tem medo. Não estava tão em si quanto antes. Era mais um pra dividir. Ora quantos pararam no fundo do mar. Isso não tem fim?
Será que não há um porto?

Era uma maldição. Rara e comum maldição.

"Lívia coração de pedra. Vá pra Terra, se doe."

E doeu.

Quis não desesperar.
E não desesperou mesmo.

Como pode uma vontade genuína naufragar tanto amor?

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